Muito marketing e pouca estratégia
Deputado estadual Alencar Santana (PT) |
Poucos dias depois do início das ações na região central de São Paulo, começaram a surgir notícias sobre os bastidores da operação. Os jornais divulgaram que o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab decidiram agir em conjunto em função de interesses políticos. O objetivo da operação na cracolândia era neutralizar a iniciativa do Governo Federal, já que a presidenta Dilma Rousseff anunciou em dezembro o Plano Nacional de Combate ao Crack.
Mas o que causou mais espanto foi a notícia de que nem o governador, nem o prefeito e sequer o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Álvaro Batista Camilo, sabiam do início das ações. É verdade que a operação vinha sendo planejada há algum tempo, mas na “hora H”, devido a “ruídos na comunicação”, o sinal verde para a ocupação da cracolândia teria sido dado por oficiais do segundo escalão da PM.
Com as tropas nas ruas, não havia como voltar atrás e todos tiveram de assumir a operação. Uma ação que, de acordo com moradores e comerciantes da região, repete os erros do passado, quando os usuários de crack foram retirados do local à força e, na ausência de outras medidas, retornaram pouco tempo depois.
A pressa de agir e a falta de comando resultaram em cenas dantescas, com viciados perambulando como zumbis pelas ruas de diversos bairros centrais de São Paulo e a área sendo lavada com jatos d’água por policiais e funcionários dos serviços de limpeza pública usando máscaras cirúrgicas, como se estivessem evitando a contaminação por uma praga.
Sim, a epidemia do crack é uma praga, mas uma praga que precisa ser combatida da maneira como propõe o Governo Federal, em articulação com estados e municípios. O plano apresentado por Dilma prevê investimento de R$ 4 bilhões em dois anos, com ações que incluem a presença de médicos nas ruas para atender os viciados, atendimento específico na rede pública de Saúde e o uso dos sistemas de inteligência do governo para combater o tráfico. Dilma entendeu que erradicar a chaga social do crack requer planejamento e estratégias globais, não apenas repressão e marketing, como fazem Alckmin e Kassab.